Pedra de Ouro e o Terreiro de Ogun
Olá, que Ogun abençoe você que está interessada ou interessado em conhecer um pouquinho sobre como chegamos até aqui. Asé!
A ideia de lançar uma linha voltada para simpatizantes e pessoas das religiões de matriz africana veio da rainha da minha vida, Dona Cida, minha mainha.
Um dia, ela sentada na sua cadeira de balanço viu que seria a venda desses produtos, feitos a base das ervas dos orixás, que faria o ‘Terreiro de Ogun’ ser levantado e com isso eu poder vivenciar o meu Sacerdócio já com chão e teto.
Então, eu e pessoas importantes nas nossas vidas, compraram a ideia e começamos o famoso ‘corre’ para que ‘Pedra de Ouro’ saísse do imaginário.
Sou grata a Dora, a farmacêutica dona da indústria Loromatic que faz os produtos e que me presenteou com a primeira leva dos produtos sem me cobrar nada, só tivemos que nos preocupar para entregar os extratos e tinturas das folhas e com as outras logísticas que envolve o processo de venda.
Eu nunca me vi Mãe de Santo, ainda mais uma denominada como Omi Orixá por alguns mais velhos do candomblé, com terreiro próprio, fazendo pessoas renascerem em Orixá. Nunca me vi nesse contexto, ainda mais com 28 anos, que foi com a idade que recebi o meu cargo pelas mãos mais amorosas e cuidadosas que Ogun poderia me dar — as de meu pai Antônio de Carvalho e minha mãe Aldenice de Carvalho.
No momento em que me vi com o deká na mão, na época, com sete filhos de santos e um pedido de Ogun para “parir” filhos e ter a casa dele, entendi que eu precisava fazer algumas escolhas e tomar decisões cruciais na minha vida.
E como um terreiro de candomblé não se levanta sozinho e não havia possibilidade de comprar um pedaço de terra para construí-lo, uma tia, que estava com uma área estagnada ao lado da linha verde de Salvador há 20 anos, decidiu me presentear para continuar ali a minha trajetória como Iyálorisá. Obrigada, Luzia Almeida!
Com terreno dado, um deká entregue, um Orixá como Ogun dono da minha cabeça e uma espiritualidade que nunca deixou eu e mainha desamparadas, eu só precisava retirar ‘Pedra de Ouro’ do papel.
Atualmente, a construção deste projeto é mantida com o dinheiro adquirido nos jogos de búzios e trabalhos espirituais, como limpeza em pessoas que precisam ser cuidadas. Se também nasci para cuidar, não escolho cuidar de ninguém de forma irresponsável e sem amor envolvido. É a responsabilidade e o amor que conduziram todo o processo para ‘Pedra de Ouro’.
Atualmente, o terreiro tem apenas o portão, tem muito o que ser feito, não sei quando ele estará todo de pé, mas sei que as vendas dos produtos e as promessas que foram feitas, de caçambas de terras, laje…entre outras coisas, farão o terreiro ter paredes e teto em breve.
CONHEÇA A IYÁLORIXÁ DE OGUN MARIANA BRITO
Ao longo de sua trajetória enquanto mulher preta, filha de sangue de Dona Cida, nascida e criada em Salvador, designada a seguir o candomblé como Mãe de Santo, Mariana Brito existe para compreender e expandir todo seu conhecimento de quem vive há anos para o Sagrado e para ser uma grande potência em tudo que deseja.
Formada em Música e Artes Cênicas, com foco durante nove anos nos estudos às técnicas do canto lírico, belting e mpb, conseguiu durante o processo somar conhecimentos que agregam mais valores para suas especializações como: Fotografia, Arte e Mediação (UNICAMP) e Desenvolvimento Criativo de Pessoas, na faculdade UNYAHNA. Além dos títulos acadêmicos, Mariana também é conhecida por estudar pautas de gênero dentro do recorte racial.
Iyalorixá de Ogun, acompanhada por Exu, filha de santo do senhor Antônio Carvalho e da senhora Aldenice Carvalho, constrói aos 29 anos seu terreiro de candomblé em sua cidade natal. Designada a viver o sacerdócio e cuidar de pessoas antes mesmo de receber seu cargo como Mãe de Santo, ela acolhe e cuida de filhas e filhos de santo desde 2020. Isso, claro, com o consentimento de Ogun, responsabilidade e respeito pelos fundamentos da religião.
Entendedora de que o candomblé não se constrói sozinho, tem em sua companhia a proteção dos Orixás, a bênção de seus mais velhos e o amparo de amigos e filhos de santo. O resultado de toda comunhão é a loja ‘Pedra de Ouro’ e o ‘Terreiro de Ogun’, que atualmente são construídos com muitas mãos e muita fé. Dois projetos que significam existir e dar seguimento por todo o Brasil nos saberes ancestrais, na defesa da liberdade religiosa, e no quão lindo e plural é o candomblé.